Revista poética Almacén
Pasadizo

hacia la poesía portuguesa

[Alfredo Ferreiro]

Otros textos de Pasadizo


Jorge de Sena

Jorge de Sena (1919-1978) nació en Lisboa y murió en Santa Bárbara, California. Estudió Ingeniería y ejerció esta profesión durante once años. En 1959 se marcha a Brasil donde lleva a cabo un doctorado en literatura portuguesa. Más tarde se va a Estados Unidos, donde dará clases en diversas universidades.

Estuvo relacionado con los Cadernos de Poesia junto a José Blanc de Portugal, Rui Cinatti, entre otros. Además de obra poética y de ficción, cuenta con varios estudios muy interesantes sobre las literaturas portuguesa e inglesa, entre ellos los que se ocupan de Camões y Fernando Pessoa.

~ Obra poética: Poesia – I (1977), Poesia – II (1978), Poesia – III (1978).

~ Ficção: O Físico Prodigioso (novela, 1977), Andanças do Demónio (contos, 1960), Novas Andanças do Demónio (1966), Antigas e Novas Andanças do Demónio (contos, 1978), Os Grão-Capitães (contos, 1976), Génesis (contos, 1983), Sinais de Fogo (romance, 1979). Teatro: O Indesejado (António Rei) (1951), Amparo de Mãe e mais cinco peças em um acto (1974).

~ Ensaio: Da Poesia Portuguesa (1959), História da Literatura Inglesa (1959-1960), A Estrutura de Os «Lusíadas» e Outros Estudos Camoneanos e de Poesia Peninsular do Século XVI (1970), Os Sonetos de Camões e o Soneto Quinhentista Peninsular (1969), Fernando Pessoa & Cª Heteronímica (1982), etc.

Si bien de muchos de los poetas portugueses del siglo XX es fácil decir que fue unos de los más sobresalientes, no decirlo de Jorge de Sena es arriesgarse demasiado a ser injusto. Sino observen esta breve muestra de su poesía:

ANDANTE

I

Soube-me sempre a destino a minha vida.
Por isso, ainda hoje que
todo o sal secou no fundo do mar
e o mar é uma câmara, ainda hoje a ignoro
—quando olho, surpreso, a sabedoria dos gestos
com que as crianças começam a sentir-se reais.

II

Ternamente,
as crianças vêem-se iluminadas dos dois lados,
e o que era liso acabou.
Todos nós vimos
o enrugar-se o céu para assentar na terra.

III

Viemos e crescemos
julgando que era extenso um abandono impassível.
E, mesmo julgando,
procurámos sinais de transigência,
golpes circulares e lentos num papel perdido...
Estas ruas, porém, foram encurtando com o tempo.

IV

Não é de um medo enorme que ressurge a vida?
As crianças nascem com uma coragem que perdem.
As mães provocam-nas em si com uma coragem de carne.
E os homens levam-nas consigo sem as conhecer.

Trad.: ANDANTE / I / Siempre me supo a destino mi vida./ Por eso, aún hoy cuando / toda la sal se secó en el fondo del mar / y el mar es una cámara, aún hoy la ignoro / —cuando miro, sorprendido, la sabiduría de los gestos / con los que los niños empiezan a sentirse reales.

II / Tiernamente, / los niños se ven iluminados por los dos lados, / y lo que era liso se acabó. / Todos nosotros vimos / cómo se arrugaba el cielo para asentarse en la tierra.

III / Venimos y crecimos / juzgando que era extenso un abandono impasible. / E, incluso juzgando, / buscamos señales de transigencia, / golpes circulares y lentos en un papel perdido... / Estas calles, sin embargo, se fueron acortando con el tiempo.

IV / ¿No es de un miedo enorme que resurge la vida? / Los niños nacen con una valentía que pierden. / Las madres los provocan en sí con un valor de carne. / Y los hombres los llevan consigo sin conocerlos.

OS PARAISOS ARTIFICIAIS

Na minha terra, não há terra, há ruas;
mesmo as colinas são de prédios altos
com renda muito mais alta.
Na minha terra, não há árvores nem flores.
As flores, tão escassas, dos jardins mudam ao mês,
e a Câmara tem máquinas especialíssimas para desenraizar as árvores.
O cântico das aves — não há cânticos,
mas só canários de 3.º andar e papagaios de 5.º.
E a música do vento é frio nos pardieiros.
Na minha terra, porém, não há pardieiros,
que são todos na Pérsia ou na China,
ou em países inefáveis.
A minha terra não é inefável.
A vida na minha terra é que é inefável.
Inefável é o que não pode ser dito.

Trad.: LOS PARAÍSOS ARTIFICIALES / En mi tierra, no hay tierra, hay calles; / incluso las colinas son de edificios altos / con renta mucho más alta. / En mi tierra, no hay árboles ni flores. / Las flores, tan escasas, se mudan de los jardines cada mes, / y el Municipio tiene máquinas especialísimas para desenraizar los árboles. / El cántico de la aves — no hay cánticos, / pero sólo canarios de 3º piso y papagayos de 5º. / E la música del viento es frío en las casas viejas. / En mi tierra, sin embargo, no hay casas viejas, / pues están todas en Persia o en China, / o en países inefables. / Mi tierra no es inefable. / La vida en mi tierra es la que resulta inefable. / Inefable es lo que no puede ser dicho.

FIDELIDADE

Diz-me devagar coisa nehuma, assim
como a só presença com que me perdoas
esta fidelidade ao meu destino.
Quanto assim não digas é por mim
que o dizes. E os destinos vivem-se
como outra vida. Ou como solidão.
E quem lá entra? E quem lá pode estar
mais que o momento de estar só consigo?
Diz-me assim devagar coisa nenhuma:
o que à morte se diria, se ela ouvisse,
ou se diria aos mortos, se voltassem.

Trad.: FIDELIDAD / No me digas despacio cosa alguna, así / como la sola presencia con que me perdonas / esta fidelidad a mi destino. / Cuanto así no digas es por mí / que lo dices. Y los destinos se viven / como otra vida. O como soledad. / ¿Y quién entra allí? ¿Y quién puede estar allí más que el momento de estar sólo consigo? / No me digas despacio cosa alguna: / lo que se diría a la muerte, si ella oyese; / o se diría a los muertos, si volviesen.

CAMÕES DIRIGE-SE AOS SEUS CONTEMPORÂNEOS

Podereis roubar-me tudo:
as ideias, as palavras, as imagens,
e também as metáforas, os temas, os motivos,
os símbolos, e a primazia
nas dores sofridas de uma língua nova,
no entendimento de outros, na coragem
de combater, julgar, de penetrar
em recessos de amor para que sois castrados.
E podereis depois não me citar,
suprimir-me, ignorar-me, aclamar até
outros ladrões mais felizes.
Não importa nada: que o castigo
será terrível. Não só quando
vossos netos não souberem já quem sois
terão de me saber melhor ainda
do que fingis que não sabeis,
como tudo, tudo o que laboriosamente pilhais,
reverterá para o meu nome. E mesmo será meu,
tido por meu, contado como meu,
até mesmo aquele pouco e miserável
que, só por vós, sem roubo, haveríeis feito.
Nada tereis, mas nada: nem os ossos,
que um vosso esqueleto ha-de ser buscado,
para passar por meu. E para outros ladrões,
iguais a vós, de joelhos, porem flores no túmulo.

Trad.: CAMOENS SE DIRIGE A SUS CONTEMPORÁNEOS / Podréis robarme todo: / las ideas, las palabras, las imágenes, / y también las metáforas, los temas, los motivos, / los símbolos y la primacía / en los dolores sufridos de una lengua nueva, / en el entendimiento de otros, en el valor / de combatir, juzgar, de penetrar / en retiros de amor para los que estáis castrados. / Y podréis después no citarme, / suprimirme, ignorarme, aclamar hasta / a otros ladrones más felices. / No importa nada: pues el castigo / será terrible. No sólo cuando / vuestros nietos no sepan ya quiénes sois / habrán de conocerme mejor aún / de cuanto fingís que no me conocéis, / como todo, todo lo que laboriosamentes pilláis, / revertirá en mi nombre. E incluso será mío, / tenido por mío, contado como mío, / hasta aquello que aunque poco y miserable / sólo por vosotros mismos, sin robo, pudiéseis haber hecho. / Nada tendréis, pero nada: ni los huesos, / pues un esqueleto vuestro ha de ser buscado, / para pasar por mío. E para que otros ladrones, / iguales a vosotros, de rodillas, pongan flores en el túmulo.


________________________________________
Comentarios